Uma homenagem a Werner Heying (1958-2023), o grande anfitrião do bar Zur Alten Mühle

Na última segunda-feira (6/3) um dos grandes donos de bar de São Paulo partiu de supetão. Pouco afeito aos holofotes, o incansável Werner Heying comandava, junto com o irmão Carlos, o Zur Alten Mühle — a melhor e mais autêntica taverna alemã da cidade, fundada pelo pai deles, o imigrante Wilhelm (1929-2001), na Rua Princesa Isabel, no Brooklin.

Será difícil olhar por detrás do imutável balcão de madeira escura da casa e não encontrar o sempre gentil e sorridente Werner com boas histórias para contar.

Natural de Taboão da Serra, ele trabalhava no Zur desde a abertura da casa, em 1980, quando tinha 21 anos. Sempre cuidou do bar à noite, enquanto o irmão Carlos, o ‘Kaly’, que começou a dar expediente lá dois anos depois, zelava pelos afazeres do dia.

Pessoalmente, tenho um carinho especial pelo Zur por frequentá-lo desde os 20 anos.

Meus amigos de faculdade ainda gostam de ser reunir lá, como fazíamos mais de 25 anos atrás — época em que o fígado ainda permitia acompanhar váaaarias rodadas de chope com steinhäger alemão a zero grau.

O endereço do Brooklin fez sua fama nos quatro cantos da cidade pelo chope, de primeiríssima. A velha chopeira refrigerada a gelo em formato de barril (foto) foi aposentada, mas a nova, maior e elétrica, dá conta do recado.

Aliás, numa época em que Brahma e Antarctica eram arquirrivais (antes da criação da AmBev), o Zur era um dos raros bares de São Paulo que servia o chope Antarctica, mais levinho. Só deixou de fazê-lo e passou a oferecer o Brahma em 2006, quando a AmBev deixou de distribuir o chope Antarctica para os bares paulistanos.

Duas pedidas certeiras para petiscar são o bouletten (34,80 reais; 6 unidades; foto), bolinho de carne de fritura sequinha e crocante, e os deliciosos canapés no pão preto (37,80 reais; foto), como o de linguiça blumenau.

Para os familiarizados com picância, Werner começou a disponibilizar na casa três mostardas superpotentes que ele mesmo turbinava com essência de mostarda (um óleo forte, extraído da semente). A sensação na boca lembra a da raiz-forte. São três níveis de ardência, sendo o mais forte deles quase insano.

A casa oferece também chopes importados em seus copos próprios — o alemão de trigo Paulaner (38 reais; 450 mililitros; foto) e o celebrado tcheco Pilsner Urquell (39,50 reais; 500 mililitros), do qual saem 80 litros por semana.

Obrigado, Herr Heying!

Vida longa ao Zur!

Jornalista paulistano, foi crítico de bares da revista Veja São Paulo durante dez anos (2003 a 2013) — período em que escreveu e foi jurado das edições anuais Comer e Beber. Antes, trabalhou como colunista do Estadão (de 1994 a 2001) e colaborou para o Jornal da Tarde e revista Época São Paulo. Em 2014, criou o Taste and Fly, onde publica semanalmente posts sobre os melhores bares e restaurantes de São Paulo além de dicas de viagem e bebidas.

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