Mesmo quem já se aventurou por prestigiadas regiões vinícolas do mundo, como Mendoza, Toscana, Alentejo e Bordeaux, terá uma boa surpresa em visitar o maior destino enoturístico do Brasil — o Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, a 110 quilômetros de Porto Alegre. Com 73 quilômetros quadrados, a região dispõe de uma das maiores concentrações de vinícolas da América do Sul. É bem sinalizada, possui ótima infra-estrutura gastronômica e, o melhor, vinícolas de grande e pequeno porte com esmerada produção de tintos, brancos e espumantes. Confira a seguir um guia de como aproveitar melhor as atrações da região.
1) É melhor se hospedar em Bento Gonçalves ou no Vale dos Vinhedos?
Logisticamente, vale muito mais a pena se hospedar no Vale dos Vinhedos. É nesta região que estão não só as principais vinícolas como também os melhores restaurantes, muitos deles rurais. Como a visitação às vinícolas termina às 17h, no mais tardar às 18h, facilita estar instalado por perto e esperar até a hora do jantar. Quem fica em Bento Gonçalves acaba precisando voltar até a cidade neste ínterim. Além disso, sobretudo após às 23h, há risco de se deparar com uma blitz da Lei Seca no caminho de volta até Bento. Sim, para circular na região é imprescindível alugar um carro — e ter consciência de pegar leve nas degustações.
# Quais são os melhores hotéis do Vale dos Vinhedos?
Diferentemente de Bento Gonçalves, a oferta hoteleira ainda é limitada na região do Vale dos Vinhedos. Por isso, é preciso se programar com antecedência para conseguir vaga nos melhores hotéis e pousadas da Rota dos Vinhos. O mais caro e imponente hotel da região é o Spa do Vinho (foto), no alto de uma encosta cercada por vinhedos da vinícola Miolo. Além de restaurante, oferece serviço de spa (também aberto para não hóspedes) com massagem e tratamentos vinoterápicos de bem-estar. Também destacam-se na região as pousadas Raízes, Leopoldina, Identidade, Gran e Storia, instaladas dentro do incrível complexo enoturístico da Casa Valduga; a pousada da vinícola Terragnolo; e o quatro-estrelas Villa Michelon.
3) É fácil encontrar as vinícolas?
Sim, facílimo. Praticamente todas as principais vinícolas ficam ao longo de 9 quilômetros de duas sinuosas estradinhas que saem de Bento Gonçalves e se conectam, a RS-444 (chamada de Estrada do Vinho) e a Via Trento. No trajeto, a sinalização é tão eficaz que nem é preciso conectar o GPS.
4) Preciso marcar as visitas guiadas e degustações com antecedência?
Para quem não conhece o processo de vinificação de brancos, tintos e espumantes, as visitas guiadas são sempre um ótimo ponto de partida para aprender sobre a bebida. Por isso, tente marcar uma logo na primeira vinícola do dia. Neste caso, é necessário agendar com antecedência, pois as visitas ocorrem em horários pré-estabelecidos. Quanto às degustações, todas as vinícolas as oferecem e geralmente não é necessário agendamento. Para ganhar tempo, evite degustar todos os rótulos. Peça para provar apenas os vinhos que tenha mais interesse. Uma das melhores visitas guiadas é a da Casa Valduga (50 reais, com direito a uma taça de recordação), na qual se passeia pela maior cave de espumantes da América Latina. Fique atento: algumas vinícolas fecham na hora do almoço.
# Quais são as melhores vinícolas?
Ainda que sempre mereçam uma visita as chamadas vinícolas de grande porte como Casa Valduga, Miolo e Chandon, os momentos mais marcantes da viagem são sempre nas vinícolas menores, onde é possível conversar, degustar e comentar sobre os vinhos direto com os produtores. Logo na entrada do Vale dos Vinhedos, a Vallontano tem vinhos de ótima relação preço-qualidade, como o tannat (49,50 reais). Em seguida, pare na Angheben, uma das mais autênticas dali. A casa faz varietais com pinot noir, gewürztraminer, barbera, tannat, touriga nacional e também com a pouco conhecida teroldego, casta italiana que é herança da imigração do norte da Itália, sobretudo das regiões de Trentino-Alto Ádige e Vêneto. A vinícola-butique mais bonita do pedaço é a Almaúnica, que faz tintos fantásticos. Também causaram ótima impressão Pizzato, Milantino, Don Laurindo, Larentis e Cave de Pedra, esta num pequeno castelo ao estilo medieval.
# Além das vinícolas e restaurantes, quais outras paradas valem a pena?
Na Via Trento, a Casa da Madeira Delicatessen é uma parada obrigatória no Vale dos Vinhedos. O espaço, que pertence ao Grupo Valduga, abriga um simpático restaurante e uma gigantesca loja com todos os produtos da marca. Há sucos de uva integral, geleias deliciosas (procure a de caqui), cremes balsâmicos, molhos de pimenta, chás gelados prontos para beber e até produtos de beleza que levam componentes do vinho. Bem próxima da vinícola Vallontano, a Queijaria Valbrenta também encanta. Produz queijos artesanais desde 2003 e pode-se provar alguns antes de comprar. Entre eles estão o queijo itálico ao vinho (imerso em vinho tinto por uma semana), o tilsit (com kummel) e o saint paulin com nozes. Vende também delícias como a figada (doce de figo) e embutidos como copa e salame de javali.
# Quais os melhores restaurantes da região?
Prepare-se para comer bem — e muito, muito mesmo — na Serra Gaúcha. A fartura impera nas mesas locais e diversos endereços apostam num rodízio de receitas italianas, oferecidas à vontade pelos garçons de mesa em mesa. Nele podem aparecer polenta (cremosa, frita ou chapeada), sopa de capeletti (menores e mais delicados que os do Sudeste), salada de radicchi (ou seja, almeirão), galetinho assado e massa caseiras, entre as quais não pode faltar o tortéi (tortelli recheado de abóbora). Um dos melhores restaurantes visitados por lá foi o ótimo Mamma Gema (88 reais o rodízio), que funciona apenas no almoço de terça a domingo. A sequência da casa inclui seis massas (foto), duas carnes e dois risotos, como o frango assado ao molho de ervas, o capeletti de pato na manteiga e sálvia e o fusilli com tomate, cebola e bacon, ligeiramente picante.
Também adotam esta fórmula o grandioso Maria Valduga (85 reais por pessoa; abre somente no almoço), restaurante dentro do Complexo Enoturístico Casa Valduga, e o tradicionalíssimo Galeto di Paolo (79 reais; foto), na entrada da cidade de Bento Gonçalves. Para uma experiência de cozinha mais autoral, focada em matérias-primas locais, a dica é o Valle Rústico, que funciona dentro de uma propriedade rural sob comando do chef Rodrigo Bellora. É sem dúvida uma experiência única na região, embora os haja um descompasso entre o valor do menu degustação-surpresa (150 reais, 6 etapas; 210 reais, 10 etapas) e o entusiasmo que as receitas causam. No Valle Rústico, é recomendável fazer reserva. Outros lugares bem cotados são o Pizza entre Vinhos (vizinho e dos mesmos donos do Mamma Gema), a Osteria Della Colombina e o novo Guri.
NAS REDONDEZAS DO VALE DOS VINHEDOS
Entusiastas dos cada vez mais elogiados espumantes nacionais não podem deixar de reservar uns dias a mais para conhecer duas regiões. Em Garibaldi, onde a dica é se hospedar e jantar no gracioso hotel Casacurta, pode-se visitar a Cooperativa Garibaldi, a Peterlongo e a Chandon. Chamada de Champagne brasileira, Pinto Bandeira reúne vinícolas como Cave Geisse e Don Giovanni, que produzem vinhos borbulhantes com até 36 meses de maturação. Também em Pinto Bandeira, a Valmarino destaca-se também pelos tintos, como o Cabernet Franc ANO XXI 2017, um dos melhores provados na região. A 60 quilômetros de Bento Gonçalves, Flores da Cunha abriga a Luiz Argenta, uma das mais bonitas e modernas vinícolas do Brasil. Dentro dela funciona um restaurante que merece uma visita, o Clô (foto), de serviço atencioso, menu italiano e salão elevado com vista para os vinhedos.
PREÇOS CHECADOS EM JULHO de 2019